Pular para o conteúdo principal

Eu, Julia Roberts, minhas loucuras de casamento e o reencontro.

  Meu nome é Catherine, todos me conhecem por Cathie e a minha história é a seguinte. Quando pequena acreditava no amor e em príncipes encantados, eu realmente sonhava com eles. Cresci e veio a fase difícil da adolescência. Continuava a acreditar no amor e sonhava com o namorado perfeito, que não chegava nunca. Namorei vários caras, mas nenhum chegou aos pés de serem bons de verdade. Muito pelo contrário, foram relações trágicas e alguém sempre saía chorando muito no final e com o coração partido.
 Meu primeiro namorado foi Gerry, tínhamos a mesma idade, 13 anos. Estudávamos juntos, começamos a ter uma amizade mais intensa, demos o primeiro beijo e começamos a namorar. Juro, achei que me casaria com Gerry. Pobre inocente que era. Namorei ele por cinco meses, eramos muito imaturos. Eu querendo controlar cada passo dele e ele querendo sair (estávamos quase nos 14 anos e os meninos começavam a sair com essa idade). Depois do Gerry tive vários casos de curta duração com outros caras. Os conhecia em festas, na escola, na rua ou quando saía com minhas amigas. Alguns foram interessantes, como com o Peter. O loiro do último ano, alto, líder do time de rugby e o sonho de consumo de toda garota, que veio parar nas minhas garras quando eu tinha 15 anos. Tivemos uma relação intensa e boa. Mas, era boa demais para mim. Até ali eu já havia sofrido por vários garotos e rapazes que só queriam meu corpo e eu sempre acabava me apegando demais a eles. Mas o Peter me tratava diferente, eu o compreendia muito bem e ele começou a gostar disso. Mas eu não. Largamos depois de completados sete meses de namoro. Ele ficou muito tempo atrás de mim e eu o ignorando, até que ele começou a namorar uma garota da sala dele. A popular Ambber. 
 Terminei a escola com muitas histórias de amores fracassados na bagagem e ingressei à Faculdade. Morar fora, o sonho de muitas garotas e o meu também. Cursei os cinco anos do meu curso de Relações Internacionais na grande e notável Makenzie. Claro, não deixei de acumular história de romance nesse período. Saí da faculdade com 24 anos e noiva de Nick. Nick e eu nos conhecemos no terceiro ano da faculdade, fora transferido de uma outra faculdade para a minha e caiu na minha turma. Começamos a namorar no meio do ano e um ano depois ficamos noivos. 
 O pedido foi lindo. Estávamos em uma viagem de trabalho (ah, não mencionei que também trabalhávamos juntos numa empresa) na Argentina e em uma noite gelada, ao final do nosso trabalho por lá saímos para jantar em um restaurante perto do hotel em que ficamos hospedados. Depois de um prato principal típico e delicioso, e uma taça de vinho  veio a surpresa.
-Cathie, preciso te falar uma coisa. - Disse isso levantando e colocando-se à minha frente. Então ajoelhou, tirou uma caixinha de alianças do bolso, pegou minha mão e completou: - Faz um ano que namoramos, estamos construindo um futuro juntos e quero passar o resto dos meus dias com você. Eu te amo muito, Catherine. Case-se comigo?
Naquela hora um misto de emoções passaram pela minha cabeça. Nick era um cara legal mas eu não me via casada com ele. Aliás, não contei antes porque esqueci, mas  eu não me imaginava casada com ninguém. Depois de tantos amores frustados, corações partidos, choros e finais tristes desacreditei no amor e em finais felizes como dos cinemas. O que queria agora era carreira e não família. Mas o Nick, ah o Nick! Era um cara tão legal, nos dávamos bem, a química realmente rolava entre a gente quando fazíamos amor, mas fora disso eu não queria algo invasivo. Mas magoá-lo? Já havia magoado tantos outros antes dele e já tinha sido tão magoada também, sabia como era. 
-Nick, eu... - Eu não tenho coragem de falar não a ele, essa era verdade. Ele seria o pai perfeito para os filhos que ele queria ter e o marido perfeito se eu quisesse me casar. Era atencioso, prestativo, esforçado, amoroso e tantas outras qualidades. Mas a palavra CASAMENTO simplesmente não tinha sentido algum para mim. Pelo menos não agora. Vamos, Cathie, esforce-se. Ele te ama! - você não acha um pouco... bem, não  sei. Estou surpresa.
Naquele momento consegui ver o desapontamento nos olhos dele e a possível dor futura seguida do meu NÃO. Lembrei-me de todas as vezes que eu ouvi muitos Não e muitos Adeus. Como doía.
-Fui precipitado, não é mesmo? Isso porque comprei elas (as alianças) há sete meses e só agora criei coragem para pedir a sua mão.
-Nick, não sei o que dizer. Eu... eu te amo! - e abracei-o. Senti meu coração partindo o dele e não queria isso. - E sim, eu quero me casar com você. 
Não é preciso dizer que comemoramos essa minha resposta tão esperada a noite inteira.Voltamos da Argentina e Nick começou a planejar tudo. Contamos aos nossos pais e logo todos já estavam sabendo de Cathie e Nick, que seriam felizes para sempre num lindo final feliz. Mas o que eu estava fazendo comigo mesma? Eu sabia que esses finais felizes não eram para mim. 
 Os meses se passaram e cada vez mais me desesperava com o andamento das coisas. Pensei que ficaríamos noivos por pelo menos uns três anos, o tempo de terminarmos a faculdade e conseguirmos um emprego melhor e, quem sabe um apartamento bom. Mas, não. Assim que voltamos da argentina, Nick já foi providenciar tudo, escolheu o lugar, a banda, o buffet e até os músicos da igreja. Não fiz muita questão de contrariar as vontades dele, afinal, era o casamento dele. Não, eu não me sentia parte de tudo aquilo. Até que, há uma semana do casamento lá estava eu, depressiva provando meu vestido de noiva na loja mais cara de São Paulo. 
-Querida, fique quieta. Vou acabar te espetando. - o nome da costureira e estilista da loja era Margot, ela tinha um bom gosto para vestidos de noiva. E eu estava me mexendo demais em cima daquela banqueta, estava muito nervosa. Muitos olhares estavam voltados para mim: mamãe, Tereza (minha irmã), titia Suel e Becky (minha melhor amiga). Todas esperando o meu olhar ansioso e feliz de aprovação depois dos últimos retoques no vestido caríssimo e perfeito. Mas o máximo que consegui foi forçar um pequeno sorriso. Notei a cara de preocupação de mamãe à minha reação, o olhar de reprovação de titia e de minha irmã e o olhar de cúmplice de Becky, que sabia como estava me sentindo naquele momento. Então elas começaram a tentar me animar.
-Vamos Cathie, sorria! Cadê aquela garotinha ansiosa com o vestido de noiva que ia visitar a Titia aos domingos e me descrevia como seria seu vestido de noiva? Chegou o momento, querida. - disse titia.
-Ah, Cathie! Francamente, até o lugar mais caro da cidade não te anima. - Me provocou minha irmã.
Mamãe não disse nada, parecendo estar entendendo as coisas. Apenas forçou um sorriso também, querendo parecer a vontade. Naquele momento que elas discutiam quem seria a primeira na fila das Damas de Honra no altar e sobre os docinhos da festa comecei a me sentir enjoada. As coisas começaram a rodar e eu saí correndo do jeito que estava. Resultado, um carro me acertou. Não foi nada grave, mas fui para o hospital. Vestida de noiva. No final da minha primeira loucura de Casamento, no hospital, decidi que todos mereciam uma explicação. Chamei meus pais, minha irmã e Nick.
-Pessoal, ficou bem claro que a ideia de casar me assusta um pouco. Nick, papai, mamãe e Tereza: vocês precisam saber que eu não consigo fazer isso. Sinto muito, Nick.
O resultado dessa primeira loucura de casamento terminou com um longo último ano de faculdade sem amigas, só Becky ainda falava comigo e Nick nem olhava na minha cara mais. Terminamos a faculdade e ele se mudou para os Estados Unidos. Passei meu primeiro ano de recém formada trabalhando em uma empresa como mediadora internacional e surgiu uma oportunidade de me mudar para a Inglaterra. Abracei-a com toda força! Ao me mudar para lá em meu novo emprego, consegui um apartamento lindo no centro de Londres. Tinha uma vida boa e sem amores e eis que surge algo inesperado, Peter.
Ele me manda um e-mail dizendo que esteve pensando em mim, perguntou como eu estava e porque não dei mais notícias minhas. Respondi educadamente e mal acreditei quando ele retornou-me dizendo que estava indo morar na Inglaterra, em uma cidade do interior próxima a Londres. Como não era o momento de me envolver de novo com outra pessoa, nem disse a ele que estávamos no mesmo país e, talvez, mais perto do que pensávamos.
 No meu segundo ano em Londres, três anos depois de formada estava completando 27 anos e feliz. Um emprego dos sonhos, um apartamento lindo, um carro bom e, claro, um namorado maravilhoso. Jack era dois anos mais novo que eu, nos conhecemos em um evento de música. Ele era baterista da banda que o namorado da minha mais nova melhor amiga, Claire, cantava. Estávamos juntos há seis meses e meio. Foi em um show da banda dele que ele me fez uma surpresinha. No final do show ele pediu o microfone.
-Bem, eu queria chamar ao palco a minha linda namorada Cathie. - Fiquei surpresa, mas imaginava que ele ia cantar a música que tinha feito para nós. Subi ao palco e ele me surpreendeu da pior forma. - Cathie, casa-se comigo? - e ajoelhou-se aos meus pés.
Dessa vez eu estava muito apaixonada pelo Jack, aqueles cabelos loiro e aqueles olhos azuis me deixavam derretida. Ele tinha um jeito de garoto responsável que me encantava e um estilo tão "up" que eu adorava. 
-Oh meu Deus, Jack... SIM! - Não segurei minhas últimas palavras. Era como se eu não tivesse falado aquilo com a autorização do meu cérebro.
 Quatro meses depois e lá estava eu entrando na Igreja para o grande dia. Apenas meus pais, minha irmã e minha amiga Becky vieram do Brasil. O resto dos convidados eram ingleses, amigos meus e do Jack. O pessoal da banda, Claire, minha chefe Anne McCurty e a família do Jack que eu pouco conhecia. A marcha nupcial começou, com um ritmo mais pesado (um presentinho do Guitarrista da banda para nós) e eu entrei. Naquela semana minhas dúvidas sobre casamento me assombraram muito, mas eu estava decidida a deixá-las de lado. Atravessei a Igreja e notei que todos riam. Percebi então que estava caminhando rápido demais para uma noiva. Enfim cheguei ao altar, minhas pernas começaram a tremer, o enjoo de novo, tudo rodava e um calor insuportável me atacou. Casar? Eu? CASAMENTO! A palavra que me dava medo. E lá estava eu à beira do altar? Olhei para trás enquanto o Padre falava e vi que todos nos fitavam. A mim e ao Jack. Não, eu não podia fazer aquilo. Virei-me depressa para a porta e... saí correndo. E lá estava eu, mais uma vez, fugindo do casamento. Inspirada na personagem de Julia Roberts no filme "Noiva em Fuga" ? Talvez naquele dia, sim. Mas era certo que casar não era mesmo para mim. No dia seguinte o escândalo ainda era boato nos círculos de amigos, os olhares me acusavam e Jack nunca mais me procurou. Resumindo, repeti essa loucura outras três vezes: uma vez com Allan, o executivo tipicamente inglês em uma cerimônia suntuosa em outra Igreja de Londres. Outra vez com John, o quarentão charmoso, romântico, caseiro e crítico literário, numa cerimônia simples na casa de campo dele. E a última vez com o pobre Fabian que trabalhava comigo, numa cerimônia escocesa (ele era escocês).
  Depois de ficar conhecida como a noiva mais fugitiva de Londres e até ser chamada para participar de programas de tv, entrei em uma espécie de depressão. Meu emprego já não era tudo aquilo que sonhava, não me trazia tantos prazeres. Meu apartamento estava com "pedaços" dos meus ex-noivos abandonados por mim nos altares e tudo me lembrava eles. Nada mais me animava. Até que um dia uma ligação mudou minha complicada e triste vida aos 31 anos. Era Peter, ele estava em Londres e tinha ficado sabendo que eu estava lá há alguns anos. Marcamos de nos encontrar. 
 Como ele estava lindo no nosso reencontro. Mais maduro, um homem de 34 anos muito bem cuidado. O meu ex-namorado e melhor amigo Peter. Contei a ele minhas histórias malucas de fugas do altar, desde Nick até Fabian. E todo dia, depois do trabalho eu já não ia mais para casa chorar, ia me encontrar com Peter. Ele me ouvia, me levava para comer coisas nada saudáveis mais que me deixavam melhor, depois saíamos para andar por Londres e eu o levava à Biblioteca. E nossa relação começou ao acaso, sem forçar nada. Hoje, dois anos depois de reencontrar Peter em Londres, me notei morando com ele. Não nos casamos, mas estamos felizes assim, dividimos um apartamento num bairro calmo e tranquilo. Antes de nos reencontrarmos ele jogava futebol profissionalmente, atualmente ele é técnico de um time local e eu deixei a empresa e meu apartamento. Sou fotógrafa, um emprego que me satisfaz de verdade. Não uso um vestido de noiva desde que Peter voltou à minha vida e não saio correndo de uma igreja desde então também. E mal posso esperar Peter chegar hoje do jogo do time para contar a novidade: estamos grávidos! 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A leve felicidade que não sabemos viver.

 Eu estava pensando noutro dia a respeito dos nossos sonhos. Não aqueles que temos quando dormimos, mas sim, dos nossos ideais. É tão difícil, nos dias de hoje, conseguir conciliar uma vida madura e adulta com uma vida que se sonhou desde criança. Até porque, quando somos crianças vemos o mundo cor-de-rosa e passamos a acreditar no futuro ideal, no mundo perfeito e colorido! Mãs ... quando crescemos, deparamo-nos com a (dura) realidade e... BUM... nossos sonhos caem por terra porque

Sobre a ansiedade crônica

 Muita gente acha que é frescura e que logo vai passar. Outro tanto de gente acha que você só está estressada ou nervosa. Há, ainda, quem ousa dizer que é coisa da idade ou que são os hormônios.

Agradecimentos: o grande retorno!

 Aos lindos leitores que acompanham este blog e sempre me incentivam, fiquei em dívida grave com vocês. Há uns meses havia postado um texto que bombou no Facebook em agradecimento a um ex-namorado meu com toda a ironia e todos os requintes de crueldade que couberam naquele momento em minha mente. Após reencontrar a figura pelas redes sociais da vida, acabei mostrando o blog a ele e apagando o post. BUT... tia Ninna Meminger tem a fama por suas ironias apimentadas e por todo o seu sarcasmo e como este lindo blog nasceu do triste desabafo causado por essa pessoa em questão, resolvi que o "Agradecimentos" deveria voltar - como eu diria em outra ocasiões- SEM DÓ NEM PIEDADE!   Então, meu ex-namorado, acostume-se com a ideia e não me peça direitos autorais porque não citei nomes! :* " Obrigada a você, meu querido ex-namorado idiota! Sim, quero lhe agradecer por estar fora da minha vida há um ano e 47 dias. Foram mais de 400 dias sem me preocupar se você estav