Eu: -Olhe para nós aqui novamente.
Ela: -Senti sua falta, querida. Ultimamente tem agido tão sem mim que penso se ainda faço parte desse paradoxo que é ser você.
Eu: -Cale.. é, você tem toda razão. Tenho deixado meus impulsos me dominarem e, por vezes, eles se sobressaem tanto que perco o controle das situações. Como se aquela não fosse mais eu, entende?
Ela: -Eu entendo porque prevejo todo o mal que isso pode lhe causar, tento alertá-la disso e tudo o que você pode fazer por nós é deixar-se levar pelos seus lapsos nervosos.
Eu: -Eu sei. E estou sentindo na pele e na alma as dores que isso vem me causando, mas você sabe muito bem o porquê estamos nessa!
Ela: -Sei? Desde quando, querida? Não me recordo. Estou sempre a lhe alertar...
Eu: -Ora, não se faça de desentendida. É culpa do monstro!
Ela: - (Gargalhada). Querida, sei que culpar aos outros pelos próprios problemas é reconfortante e mais fácil, porém não é o melhor caminho. Agora, culpar um ser mitológico, inexistente e monstruoso é no mínimo hilário.
Eu: -Não seja tola, consciência!
Ela: -Calma! Você pode ser melhor que isso. E nem pense em xingar ou me insultar com seu vocabulário vulgar. Você é muito melhor que isso, mocinha!
Eu: - (...)
Ela: -Sei que detesta ficar sem palavras, afinal sua vida é feita delas. Mas as vezes o silêncio é o nosso melhor aliado. Comece a usá-lo mais.
Eu: -Tá bem.
Ela: -Agora, explique-me essa história de monstro. E, por favor, sem seus mistérios e rodeios. Seja direta e breve.
Eu: -Direta, tudo bem. Mas breve eu não garanto porque o assunto é abrangente.
Ela: -Comece logo, por favor!
Eu: -Claro. Sendo direta: BIPOLARIDADE!
Ela: -Ah, não! Eu não acredito nessa história toda que contaram a você e não acredito como pode acreditar nisso.
Eu: -Por favor, o pior cego é aquele que não consegue ver o que está bem na sua cara! É claro que meu diagnóstico é o do transtorno bipolar, com episódios de euforia e depressão.
Ela: -Euforia e depressão, esse paradoxo me encanta! Mas, acaba com você não é mesmo?
Eu: -É claro que sim! Olha como estou hoje! Por favor, né...
Ela: -É uma pena que tão nova assim sofra tanto por não saber lidar consigo mesma. Diga-me, como pretende amar alguém se não consegue nem se entender?
Eu: -Saiba que estou de recesso para essa coisa de amor, então vá se...
Ela: -Olha o respeito, mocinha! Sou parte de você! E já disse que pode ser melhor que isso. Abaixe seu tom de voz comigo e não grite mais porque as pessoas na rua acharão que você é uma louca varrida gritando consigo mesma.
Eu: -Que se danem as pessoas na rua! Eu estou numa discussão com a minha própria consciência, quero que ela entenda que sou uma pessoa com limitações e que uma delas tem nome e sobrenome: transtorno bipolar.
Ela: -Já disse que culpar algo ou alguém é errado, né?
Eu: -Os fatos comprovam isto! Deixe-me terminar ao menos e entenderá.
Ela: -Desculpe-me! Pode prosseguir.
Eu: -Tudo que sei é que o transtorno bipolar é caracterizado por episódios de oscilações no humor de quem o porta. Indo desde a euforia à depressão. Por exemplo: você acorda bem e qualquer coisa é motivo para a euforia: compras, sonhos fora do comum, aventuras e tudo que fuja do padrão. Assim também, qualquer coisa pode ser motivo para causar os episódios mais tristes, os depressivos. Um telefonema perdido, um sms não respondido da pessoa amada, um pequeno gesto de quem convive com você pode lhe levar à loucura ou uma cena triste de um filme de drama, que fará você achar que aquilo pode muito bem acontecer com você. E aí, você passa pela alegria entusiasmada e o choro compulsivo em um único dia. Isso tudo faz você ficar eufórica, ansiosa e pensando num monte de caraminholas. E a ansiedade é tão grande que causa insônia!
Ela: -Mas olhem, é você descrita perfeitamente!
Eu: -Cadê a parte em que você me dá razão?
Ela: -Eu sou sua consciência! Meu dever é alertá-la quando está fora de controle ou se colocando em perigo e lhe propôr esses momentos de análise interior. Quem deve razão a alguém aqui é a senhorita.
Eu: -Tudo bem! Você está certíssima, eu errei por não ter dado ouvidos a você e sempre agir por impulso. Porém, consegui provar que tenho meus motivos e o quão difícil é conviver com eles.
Ela: -Criança, quando se der conta que as respostas para os seus piores conflitos estão dentro de você mesma, tudo isso será controlável e perfeitamente aceitável.
Eu: -É, quem sabe um dia eu não consiga esse ato nobre de lidar comigo mesma. Controlar minha ansiedade e matar meu monstrinho.
Ela: -Nas condições em que me apresentou acho que matá-lo é inútil. Uma vez que ele faz parte de você e de nós. Mas aprenda a dominá-lo e a aceitar-se.
Eu: -Aí eu poderei escrever um livro sobre isso!
Ela: -Querida, o mercado está saturado de livros de auto-ajuda. Por favor, sei que é uma escritora muito melhor que isso!
Eu: - Não será um simples livro de auto-ajuda! Serão as nossas conversas que ajudará às meninas que, assim como eu, sofrem com esse grande monstro gigante que é o transtorno bipolar. Quem sabe não seja um desses Best Sellers.
Ela: -Que bom que saímos do episódio depressão e viemos para a euforia, mas contenha-se! Lembre-se que tudo que é em excesso faz mal. Domine seu monstro e mostre que a mulher que há em você é bem mais forte que ele!
Eu: -Nossa, que discurso de final de livro de auto-ajuda barato!
Ela: -Se não lhe serviu, delete-o.
Eu: -Tão "fina" quanto eu, né? Por isso continua sendo a melhor opção para esse tipo de conversa.
Ela: -Sei disso! Agora vamos dormir? Estou no meu limite porque você está esgotada. Tome o nosso "milagroso" e vamos descansar.
Eu: -Você sabe o quanto eu detesto depender de remédios para dormir.
Ela: -Eu sei, meu bem. Mas você ainda precisa deles, então aceite isso e tome para o seu bem. Quando estiver melhor e já não precisar deles, aí você escreverá o seu livro sobre o monstro bipolar e ajudará todo mundo com esse transtorno. Agora, vamos dormir! Boa noite.
Eu: -Boa noite! Obrigada.
Comentários
Omg '-' esse diálogo merece uma continuação, principalmente deixando a querida Ninna opinar em seus diferented modos de ser *-*
Ameeeeei. Parabéns.